Aprendendo como cuidar!
- sezimariasaramago
- 3 de mai. de 2021
- 3 min de leitura

Sou da geração dos anos 50 e, de forma geral, nossos pais nasceram na década de 30. Assim, nem precisa ser bom de matemática, para entender que nossos pais estão perto dos 90 anos enquanto nos aproximamos dos 70! Apenas este fato já nos leva a refletir, procurando entender o fenômeno recente: como uma geração já considerada idosa está aprendendo a cuidar dos pais (praticamente anciões)!
Não recebemos ensinamentos anteriores e a sociedade não se organizou para esta mudança populacional! Neste novo contexto, a maioria das casas não possui estrutura para receber os anciões e as famílias, em geral, não têm reserva financeira para as adaptações necessárias e para montar uma rede de apoio eficiente. Além disso, como nossos pais não vivenciaram esta realidade, na maioria das vezes, não se prepararam, física e emocionalmente, para envelhecer de forma saudável (nossos avós morriam em torno de 60 anos...).
Porém, apesar de todas as dificuldades, estamos tentando lhes ajudar da melhor maneira possível. Aprendendo a lidar com o sofrimento deles, com as doenças e, principalmente, com as fragilidades... Como é difícil ver nossos pais, antes tão cheios de energia e vitalidade, aos poucos perderem suas capacidades! Perceber que somos impotentes diante das enfermidades graves, aquelas sem cura, só nos restando fazer o mais adequado para que se sintam confortáveis, minimizando suas dores... O dilema é que temos que conviver simultaneamente com nossas dores e tristezas, amiúde de forma solitária!
Regularmente necessitamos dar uma pausa e zelar por nós mesmos, porque, apesar do grande amor que sentimos, a tarefa é cansativa e percebemos que nossas energias vão se esgotando... Somos humanos e precisamos de auxílio, por isso é importante ter suporte!
Um ponto interessante é que, ao mesmo tempo em que cuidamos de nossos pais, temos que aprender a nos relacionar com nossos irmãos (filhos, cunhados, sobrinhos...), descobrindo novas formas de convivência, de divisão de responsabilidades! Frequentemente surgem situações que geram conflitos, trazendo à tona problemas antigos... A família precisa perceber que, apenas com a aceitação das diferenças (e muita paciência), torna-se possível criar um ambiente seguro e harmônico para nossos velhinhos! Não é fácil, o aprendizado do amor é exigente!
Outra questão neste processo são os momentos indispensáveis de quebrar tabus e preconceitos. Muitas vezes precisamos confrontar aqueles a quem sempre obedecemos! Por exemplo, chega um momento no qual você necessita assumir a administração econômica: controlar a conta bancária do idoso pode ser percebido quase como uma tragédia!... Longo também é o processo para que eles aceitem ajuda de cuidadores, pois não normalmente querem sair de suas casas (o que é louvável), mas demoram a compreender que, para isto, precisam do auxílio permanente de outra pessoa!
Várias são as situações difíceis, onde se faz inevitável uma carinhosa e firme negociação: aceitar o uso de uma medicação permanente, o auxílio de uma bengala ou andador, o uso de fraldas geriátricas, a ajuda durante o banho, etc... São episódios constrangedores para o idoso, mas para nós também! Nunca esquecerei a primeira vez que levei meu sogro ao banheiro (tão frágil e envergonhado), enquanto eu me sentia encabulada, perdida ao ver sua debilidade...
Quando ajudo minha mãe a caminhar, sustentando seus passos vacilantes, penso na existência humana! Reflito se estaremos prontos quando chegar a etapa final de nossas vidas, se estamos trabalhando para aceitar nossas fraquezas no futuro... Espero que a sociedade se prepare melhor para nos receber, com casas de apoio bem estruturadas, suporte médico e psicológico. Que trabalhemos nossas mentes para aceitar ajuda dos filhos quando a vida exigir que sejam responsáveis por nós, porque o ciclo continua e gira rápido! Os anos escoam mais velozes do que desejaríamos!...
Saiba que cuidando de quem te criou você tem a oportunidade de pensar na sabedoria do Criador! A convivência com nossos pais, nesta etapa de vulnerabilidades, é na realidade um presente que recebemos, oportunidade de despedida e de crescimento interior! Então, sou grata por cada novo dia que posso continuar zelando...
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